Como se podem tirar excelentes fotografias de surf?

A determinada altura todos nós quisemos estar atrás da câmara: talvez para  imortalizar aquela vez em que surfaste A Onda, aquela com que ainda sonhas (e ser capaz de provar aos teus amigos que sim, tu saíste do tubo), ou para reviver algumas grandes experiências de surf, ou apenas pelo  puro prazer artístico da mesma.

.   Então, como conseguir boas fotos de surf amador  sem gastar muito dinheiro em equipamento fotográfico? Como te deves posicionar em relação à onda e como evitar ser apanhado na ondulação? Vê as dicas dos fotógrafos que trabalham diariamente com a Olaian:

Apaixonada pelo surf e pela fotografia, Lucie, embaixadora da Olaian e gestora de projetos na Fundação Surf Rider, dá-te os seus conselhos sobre fotografia de surf:

- MÁQUINA: antes de começar, tens de decidir entre foto e vídeo. Isto porque algumas câmeras são concebidas para vídeo e outras para fotografia. Pessoalmente utilizo uma JH5 PANASONIC, que é mais direcionada para vídeo do que as câmaras CANON, que penso serem excelentes para fotografia.

Depois tens duas opções: entrar na água com os surfistas, ou filmar a partir da praia.

- LENTES TELEOBJETIVAS: Se quiseres capturar a ação nas ondas a partir da margem, vais precisar de uma lente teleobjetiva longa: pelo menos 250-300mm. Quanto mais longe estiveres das ondas, mais longa deve ser a tua lente teleobjetiva.

- TRIPÉS: estes são imprescindíveis, especialmente se estiveres a disparar com uma lente teleobjetiva, que se torna pesada rapidamente (sim, mesmo com aqueles bíceps maciços que o surf te deu). Um tripé não só permite estabilizar a filmagem, mas também assegura um seguimento suave  se estiveres a fotografar em modo de disparo  ou a filmar. Em alternativa, se quiseres estabilizar o teu disparo mas também teres a flexibilidade de mudar rapidamente os ângulos durante o disparo, utiliza um monopé.

- CAIXA ESTANQUE: Eu utilizo uma caixa Meiko à prova de água ao fotografar enquanto surfo; lembra-te: certifica-te de que escolhes uma caixa que seja totalmente compatível com o modelo da tua câmara e com os tipos de fotografias que queres tirar: Por exemplo, não posso usar esta caixa para fotografias de mergulho porque não é resistente à pressão. Outra desvantagem: a caixas estanques continuam a ser bastante caras ( prevê pagar pelo menos 1000 euros). Mas também podes tirar fotografias muito boas com um telemóvel com caixa à prova de água ou uma GoPro com um bocal  que te permite levá-lo contigo no tubo (embora o efeito olho de peixe tenda a distorcer o tamanho das ondas).

@Damien Poullenot "Depende de vários fatores: o primeiro é a disposição do local e o efeito que procuro, depois é o quê e para quem é a fotografia; para uma reportagem "de viagem " ou artigo de revista, queres fazer uma cópia  e encontrar um ângulo que te permita compor um plano que inclua o fundo e a envolvente. Para fotografia de produtos: usas uma distância focal mais longa e disparas de frente. "

@Cécilia Thibier "Posiciono-me para o lado  mas tudo depende  da luz."

@Fabien Le Boulluec "Depende do local, do recife ou da rebentação na praia, por vezes não se pode disparar de frente, como se se estivesse num barco ou num jet ski. Prefiro disparar de frente, mas também gosto de disparar de lado com uma longa distância focal quando há bons tubos."

@Lucie Francini "Ambos, para variar os disparos e subir nas dunas, se existirem, para mudar a perspetiva. Obviamente, deves ter o cuidado de te posicionares consoante a onda seja esquerda ou direita ;)"

@Damien Poullenot "Uso um tripé o tempo todo para estabilidade, mas é uma escolha pessoal: algumas pessoas preferem os monopés, uma vez que podem ser movidos mais rapidamente e são mais leves para transportar."

@Cécilia Thibier "Nenhum dos dois, mas se eu tivesse de escolher seria um monopé."

@Fabien Le Boulluec "Tripé."

@Lucie Francini "Para fotografias: os monopés permitem-te ser mais reativo, moveres-te mais livremente, e são mais práticos e manobráveis (o que é bastante importante na areia), ou nenhum tripé, se quiseres estar totalmente livre; durante o dia há normalmente luz suficiente para evitar o embaciamento (com uma lente estabilizada é ainda melhor, obviamente). Caso contrário, se estiveres a filmar durante muito tempo num só local, é mais confortável colocar a tua câmara num tripé... Para vídeo: um tripé é basicamente indispensável se estiveres a disparar com uma lente teleobjetiva, com uma cabeça flexível para movimentos suaves e para seguires sem problemas o surfista ao longo de toda a onda."

@Damien Poullenot " Tirar fotografias rodeadas pelos elementos, o oceano em todos os seus estados, os seus movimentos, a sua luz; o surf é apenas uma variável, uma parte da fotografia, mas é o mar que nos guia."

@Cécilia Thibier "A graciosidade das mulheres."

@Fabien Le Boulluec "Manobras aéreas e tubos, aquashoots, câmara lenta, e naturalmente fotografar os impressionantes carvings."

@Lucie Francini "Prefiro honestamente estar na água em vez de fotografar a partir da praia... ;)"

 

@Damien Poullenot "No Instagram e nas redes sociais: é difícil destacar-se e tudo já foi feito antes, por isso encontrar o teu nicho e nunca negligenciar a qualidade da fotografia."

@Cécilia Thibier "Não sigas apenas as regras cegamente, segue a tua intuição..."

@Fabien Le Boulluec "Estão por sua conta:)"

@Lucie Francini "Para fotografias: praticar a focagem (dependendo da tua câmara e autofocus) para evitar pontos focais aleatórios e surfistas desfocados ;) Disparar em modo de disparo. Para vídeo: segue a onda, não o surfista, para obter movimento fluido! E mais genericamente, diverte-te e tem cuidado com a areia!!! "

@Damien Poullenot " É fácil!"

@Cécilia Thibier "Nunca tive nenhum, os fotógrafos são muito reservados em França"

@Fabien Le Boulluec "Faço filmes profissionais com a minha GoPro."

@Lucie Francini "Nunca ouvi realmente o "pior" conselho... é mais que tens de praticar, experimentar as coisas e aprender com os teus erros! ;)"

Damien Poullenot, em ação nas águas cristalinas das Caraíbas para a Olaian

@Damien Poullenot "Cada caixa é diferente e tem as suas próprias especificidades, mas em geral: lavar, limpar e verificar se os vedantes e parafusos estão devidamente alinhados é o essencial. "

@Cécilia Thibier "Limpar frequentemente, aplicar lubrificante, verificar a existência de fugas."

@Fabien Le Boulluec "Verificar a estanqueidade na banheira, limpar bem o interior e exterior da caixa. Uma rápida limpeza antes de entrar na água e estás pronto para ir!"

@Lucie Francini "Obviamente, o mais importante é a selagem! Quando fechas a caixa, verifica se há pó ou areia - se eu puder, tento fazê-lo em casa ou no meu carro e não na praia com as mãos cobertas de areia... Usa um pano e uma ventoinha para remover qualquer poeira ou areia do vedante. Verificar se a bateria está totalmente carregada, e se o cartão de memória está vazio: não é fantástico ter de sair da água no meio de uma grande sessão porque a tua bateria está descarregada...!! Verifica as definições com antecedência: dependendo da caixa, não se pode necessariamente mudar as coisas uma vez fechada, e, uma vez dentro de água, é difícil ver o que se está a fazer. Além disso, dependendo do tamanho das ondas e da corrente, nem sempre é possível ajustar corretamente as definições entre duas séries (a menos que estejas a disparar em 30 cm junto à costa, claro) ;) Antes de mergulhares de cabeça para passares a rebentação, mergulha a tua caixa algumas vezes perto da margem para verificares se está estanque !!"

@Damien Poullenot "Mesmo no meio da ação... :)"

@Cécilia Thibier "Tudo depende da luz e de como a onda está a quebrar"

@Fabien Le Boulluec "Isso é algo que se tens de sentir à medida que vais evoluindo..."

@Lucie Francini "Depende realmente da onda, do surfista (long or shortboard), do tipo de onda e do tipo de fotografia que pretendes:) dedica algum tempo a falar com o surfista previamente, assim como quando estiveres na água, para que possas chegar a acordo sobre onde vais estar e onde eles vão estar em relação a ti (é um trabalho de equipa!).Reserva algum tempo para observar as ondas antes de entrares na água: se são direitas ou esquerdas, como enrolam, onde quebram, como outros surfistas apanham as ondas, onde estão as correntes... (tal como farias antes de uma sessão de surf).

Uma vez na água, tens de te adaptar ao surfista, seguindo-o e tentando antecipar quando ele vai apanhar uma onda para que te possas aproximar ou recuar, ver se é uma direita ou esquerda, se ele vai passar à tua frente ou atrás... lembra-te, estás na superfície da água, é mais difícil ver o que está para vir - mesmo que sejas mais ágil com barbatanas, não é provável que sejas tão rápido como um surfista na sua prancha ;) Nunca hesites em mudar para outro lugar ou pico após algumas ondas, se vires que não estás bem posicionado. " 

@Damien Poullenot "Colocação, antecipação e experiência são as chaves; é impossível evitar, acontece a toda a hora, mesmo aos melhores de nós:tenta apenas limitar os riscos e as consequências. Ser apanhado por uma onda em Teahupoo é normalmente mais sério do que em La Graviere..."

@Cécilia Thibier "Mergulha por baixo da onda"

@Fabien Le Boulluec "Boas barbatanas e o equipamento na água""

@Lucie Francini Haha bem, normalmente dependendo de onde estás e da força das ondas, não vais ser apanhado na onda cada vez que disparas, mas basicamente se quiseres obter o disparo mais interessante, normalmente estás mesmo onde as ondas se quebram, por isso vais levar algumas pancadas... Tens de ser capaz de avaliar as condições em relação às tuas capacidades. Na maioria das vezes, se tanto tu como o surfista estiverem bem posicionados, não vão ser varridos."

@Damien Poullenot "Depende da forma e força das ondas.Muitas vezes, mergulhando mesmo em frente ao lábio de impacto, passa-se por baixo da ondulação e miraculosamente do outro lado da mesma. Se tivesses estado 50 cm mais abaixo, terias sido dizimado e esmagado até ao fundo!! a maior parte das vezes limitas-te a fazer o que podes "

@Cécilia Thibier "Classifica mais tarde;-)"

@Fabien Le Boulluec "É mais fácil do que numa prancha de surf, podes mergulhar muito mais cedo."

@Lucie Francini "No último segundo, se não houver risco para o surfista, para ti ou para o teu equipamento ;) e na maior parte das vezes não podes realmente "mergulhar" porque estás a filmar, é mais provável que a onda se abata sobre ti..."

@Damien Poullenot "É melhor ter um capacete posto para não queimar a minha cabeça careca :) Agora a sério: num recife, normalmente, na areia, nem sempre...normalmente um capuz para água fria para os meus ouvidos."

@Cécilia Thibier "Capacete, mesmo se nunca estou em ondas grandes."

@Fabien Le Boulluec "Num recife ou num spot com muita gente, capacete;com o Dayne Reynolds, capacete, especialmente quando ele aterra em cima de ti.Caso contrário, sem capacete."

@Lucie Francini "Até agora, ainda não filmei no tipo de condições adversas que exigiriam um capacete e geralmente tento evitar pontos de aglomeração - ou pelo menos ficar um pouco fora do caminho para não perturbar os surfistas e evitar um acidente. Mas, se um dia tiver de filmar nessas condições, não hesitaria em usar um!"

@Damien Poullenot "Fernando de Noronha: paraíso da fotografia aquática."

@Cécilia Thibier "A primeira vez que, em vez de fotografar crianças a aprender a surfar (numa escola de surf), Vi aquela rapariga numa longboard a surfar à minha esquerda, e esqueci-me completamente dos miúdos da escola de surf… foi quando tirei a minha primeira foto inesquecível." "

@Fabien Le Boulluec Faço filmes para não ter uma 'melhor memória fotográfica'... Não, estou a brincar, eu tiro fotografias mas o meu trabalho é fazer filmes. Quando comecei, em 1993, lembro-me do meu primeiro filme em Jeffrey's Bay, com a banda sonora de Otis Redding: Sittin'On the dock of the Bay; teve um impacto tão grande em mim que eu pensei: isto é o que eu quero fazer.Quanto a uma fotografia, é uma série do Joel Tudor em Pipe em '98 sobre uma prancha azul e branca que refletia através da baía à medida que saía da água. E em '99 com Didier Piter em Teahupoo, uma série de fotos nuns pesados 4m quando os rapazes raramente fotografavam a partir de um reboque. Estava a andar de caiaque no canal e as fotos são espantosas, infelizmente, os negativos ficaram encharcados e arruinados."

@Lucie Francini "Basicamente, desde o momento em que chego à água, estou sempre feliz... mas eu diria que a minha melhor memória foi a primeira vez que consegui algumas imagens brilhantes enquanto estava a fazer aquashooting (depois de ter lutado durante algum tempo para acertar as minhas definições e para me colocar no lugar certo:) É realmente gratificante porque leva muito tempo e energia :)Para mim  foi um sonho tornado realidade para fundir as minhas duas paixões: surf e fotografia."

@Damien Poullenot "Tem havido bastantes:
- Em casa, na La Gravière, não foi grave, mas avassalador: fui atingido por uma onda após outra a 5 m da costa e não consegui sair da água nem chegar atrás dela, o tempo abranda muito nesses momentos...
- Detesto disparar na Backdoor, que é um local muito complicado e que pode ser seriamente perigoso
- Em Rockpile na costa norte, logo no início da minha carreira: a ondulação estava cada vez maior: fui varrido e levei uma eternidade a regressar à costa, totalmente exausto.
- E os outros..."

@Cécilia Thibier "Na Martinica não estava familiarizado com o spot e havia uma corrente forte, não conseguia ter pé, perdi-o totalmente!!!!"

@Fabien Le Boulluec "Já fiz muita fotografia na água em condições bastante perigosas, mas estranhamente, não foram as vezes em que mais me assustei. Talvez uma vez em Bali com Fred Robin, sozinho em 2 1/2, 3 metros com uma série de 7 ou 8 ondas que me prenderam ao recife, com uma barbatana partida. Tive dificuldades e tive de pedir ao Fred que me deixasse sentar na sua prancha para recuperar o fôlego. O pior foi quando eu estava a filmar de um paramotor para o primeiro filme de surf russo "On the Wave" (quando os drones ainda não existiam) e quase caí na água ou no penhasco Dreamland."

@Lucie Francini "Tento nunca me meter em situações que são excessivas para mim para não me assustar... (o pânico é o inimigo número um na água!). Eu faço regularmente bodysurf para estar mais confiante ao filmar e para ser capaz de trabalhar até as maiores ondas. Dito isto, é verdade que de vez em quando sou arrastado por uma onda quando fotografo e é sempre stressante com a caixa e tudo, mas ainda não tive um momento muito assustador!"